Memórias

Memórias do local

      Você lembra de alguma experiência marcante em Carananduba ou em qualquer outro bairro da ilha? Tem, por exemplo, memórias de infância neste lugar?  Morou ou visitou a ilha alguma vez? Aqui você pode deixar registrado essa experiência, contar uma história, compartilhar suas memórias.
      A seguir, compartilho com vocês um pouco de minhas memórias, da criança que fui no bairro onde moro. Espero que gostem.

Aquele tempo

                    (Roberto Costa)

      Conversando com minha mãe sobre nosso passado, relembrando histórias e memórias de coisas que fazíamos e hoje já não mais, encantou-me o fato de que (limitados por uma realidade interiorana) tudo era tão episódico e marcante, talvez nem tudo fosse tão bom. Mas, apesar de tudo, recordarmos, com saudosismo, de um tempo em que precisávamos ir mais longe para conseguirmos alcançar coisas simples.
      Mamãe encerra sua fala dizendo “mas eu prefiro aquele tempo, quando eu podia ficar na frente de casa sem medo”.
       Realmente, minha mãe tem razão, muitas vezes, eu também prefiro “aquele tempo”. Tempo de andar descalço pelos caminhos que nos levavam até a casa de um vizinho, ou até um banho de igarapé, de ir até uma tapera e ali colher uxi, piquiá ou cupuaçu.
       Prefiro aquele tempo das noites em que “faltava luz” e podia ver a dança dos vaga-lumes na frente de casa. Ah! Sinto saudade daquele tempo, quando nossos avós acendiam lamparinas e a chama, nascida do querosene, parecia um ser vivo que passava a noite a contrariar a escuridão, esta por sua vez não nos colocava medo algum, a não ser quando alguém falava de alguma visagem que aparecia por ali. Costumo dizer que as visagens foram embora da ilha para algum lugar mais seguro, infelizmente.
     Eu sinto saudade do tempo em que deitava no asfalto a noite, sem medo de que um carro passasse pela rua, pois isso era raro, olhava o céu estrelado e caçava estrelas cadentes, para fazer o pedido de uma criança pobre que não sabia que os brinquedos não caíam do céu.
     Eu amo aquele tempo em que minha avó contava histórias, aprendidas em sua infância nordestina, não recordo direito, mas havia uma “do figo da figueira” que eu adorava ouvir.
    Tudo isso acontecia nas noites “sem luz”, crianças brincavam de roda, avós faziam chás em fogões a lenha, pessoas conversavam ao som das melodias de grilos e sapos, janelas não eram fechadas e nossas casas não precisavam de grades, tampouco nossos quintais necessitavam de muros.
     Então, vejo que aquele tempo era um tempo ilimitado, que não corria e não tinha pressa, morávamos numa Ilha e nela tínhamos um mundo bem melhor e maior do que o mundo que temos hoje.

2 thoughts on “Memórias

  • Abril 26, 2023 at 6:34 pm
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    Conheci mosqueiro como visitante e em tempos mais atuais ao do relato. Porém,consegui construir uma memória afetiva, talvez por ser do interior e com experiências parecidas,que me deixou saudades e com vontade de mais histórias “daquele tempo”.Tempo que não chamaria de limitado em função de uma pseudo modernidade,mas sim, daquele tempo sem limites para viver sonhos possíveis e impossíveis,como enfatizado ao final.
    De Mosqueiro não tenho uma história interessante para contar,a não ser, de uma pessoa que gosta de água, mas, trago um afeto enorme pela ilha que me envolve todas as vezes que vou até lá.

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  • Abril 26, 2023 at 7:10 pm
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    Sou moradora da Ilha há 30 anos e hoje tenho 30 anos. Em todo esse tempo vivi momentos marcantes na Ilha. Sou do bairro do Chapéu Virado e algo que marcou a minha adolescência foi ir no ônibus circular do colégio nossa senhora do ó até a casa da minha amiga no carananduba para fazer trabalho escolar. Era uma viagem divertida, afinal pouco andávamos de ônibus. Foram nesses momentos que sentia a liberdade de ser adolescente, mas ao mesmo tempo a responsabilidade de cuidar de mim mesma.

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