Depoimentos

Depoimentos

           No trabalho com história local, são os depoimentos de moradores antigos, importantes fontes de pesquisa, pois expressam visões de um passado dos quais os mais jovens não  participaram, e permitem perceber as mudanças e transformações ocorridas no espaço de um modo particular, subjetivo e diversificado. 
        Quando vamos ao encontro dos mais velhos, percebemos que estas pessoas comuns revelam testemunhos, revivem suas histórias de vida que fazem parte da história do lugar que habitam  e por este são também habitados.
          Para lembrar, recorrem às memórias ligadas aos sentidos, assim, os cheiros, as cores, os sabores, os sons e, até mesmo, os silêncios vividos no passado e retomados no ato de rememorar, marcam as lembranças dessas pessoas.
      No ato de recordar “caminham” novamente pelas ruas do bairro e, desse modo, cada sujeito estabelece uma relação subjetiva com aquilo que recorda, revive e sente. Nascem relatos saudosos, felizes, entristecidos, lembranças do brincar, de lutos, sentimentos e acontecimentos.
         Dessa forma, se reconhece o justo valor dos depoimentos, se valoriza o lugar de fala dos mais velhos, bem como, alunos e alunas são motivados ao exercício da empatia, da escuta e do diálogo com aqueles que os antecedem no tempo e no espaço.
         No ensino de História, quando se opta pela realização de entrevistas, pela construção de fontes orais, cabe ao professor tomar certos cuidados e orientar alunas e alunas explicando-lhes, de forma clara, a metodologia da história oral, desde a elaboração de um roteiro de entrevistas, ao modo como se portar durante a realização destas, bem como ao tratamento a ser dado aos depoimentos.
        Além disso, cabe também ao professor lembrar aos estudantes que testemunhos não contem verdades inquestionáveis, que a memória não é um instrumento que permite a revelação integral de um passado a ser pesquisado, faz-se necessário ir ao encontro de outros depoentes, se possível, recorrer também a outras fontes de natureza distinta, para assim construir um “mosaico” que permita uma visão mais ampla sobre aquilo que se busca conhecer.
        No bairro de Carananduba, são os mais velhos que podem contar a história do lugar, não se enxergam ali casarões antigos e luxuoso , nos jornais encontrados, as citações sobre o bairro são poucas, de igual maneira são poucos os registros oficiais que falam do bairro, os lugares do passado existem nas memórias dos mais velhos.
        Durante as atividades de pesquisa, foram realizadas algumas entrevistas com moradores do bairro, que contaram com a participação de alguns alunos e alunas. Nessas entrevistas, os depoentes, ao rememorarem o bairro, recorriam às memórias ligadas aos sentidos. 
          Assim, era comum ouvi-los falar das matas e “águas” do bairro, das frutas, dos cheiros (em especial do pescado ali obtido, muitas vezes gratuitamente, devido à abundância deste), da música das festas que ocorriam no lugar, do deslocar-se pelos “caminhos” do bairro, do trabalhar a terra em roças, dos chás feitos como remédio para a cura de doenças, relatos saudosos que nos ajudavam a construir uma imagem de um tempo que por nós não foi vivido.
           Nesse sentido, recorrer aos testemunhos orais configurou-se como uma atitude de reconhecimento da memória dos mais velhos, bem como da necessidade de registrá-las, preservá-las e divulgá-las.